Bowie saiu do ar em grande estilo, fazendo jus a sua prática camaleônica. Valeu Ziggy. Não me canso de ouvi-lo ainda hoje na dançante Modern Love. Tenho uma sugestão sobre este artista especial que sai de cena: vejam ou revejam o filme “O Estranho que Caiu na Terra“. Um dos melhores filmes de ficção-científica já feitos. Tá na minha lista dos cem melhores filmes. Não sei se é um filme noir ou apenas depressivo, mas é impossível não se deixar cativar pelo personagem do alienígena interpretado por David Bowie. Não é de surpreender. David Bowie é o próprio estranho que veio dar no nosso planeta. Salve David Bowie. Well done.
Categoria: cinema
Críticas de filmes
Elysium, ou parece que é Miami?
Aluguei no Now, da Net. Eta coisinha ruim. O roteiro é até engraçado. Parece uma metáfora, ou é uma paródia? Da situação dos mexicanos, morrendo de inveja da vida de sonhos dos americanos. A vida do gringo não tá tão invejável assim, mas ainda serve pra fazer um scifi onde os chicanos, os coitados que foram deixados na favela em que se tornou a Terra, querem ir para a estação orbital do luxo e imortalidade saudável. Deve ser o suburbano pobre no ar poluído da Cidade do México sonhando ir para Miami. Qual língua falam os miseráveis deixados aqui? O espanhol, é claro. Os ricos vivem na estação que é o equivalente aos bairros ricos e cafonas da Florida. O maior objeto de desejo dos pobres são as camas milagrosas que curam todas as doenças, que os ricos, não entendi qual o motivo, não compartilham com os pobres. O filme é a representação dos pobres americanos ou imigrantes invejando ter o seguro saúde, ou seja, o Obamacare.
Mesmo com este esforço para achar graça no modelo de separação ricos e pobres, o filme é fraquinho. Matt Damon e Jodie Foster, sempre bem pagos, interpretam os principais papéis da história. Pura burocracia. É curioso o uso de artistas brasileiros para fazerem os personagens “latinos” excluídos. Alice Braga e Wagner Moura cumprem com tranquilidade a tarefa de carregar seus personagens.
E é isso. Uma bobagem típica de filmes de ficção científica ruim, com bastante dinheiro para efeitos especiais conservadores. Na linha dessa história, valeria mais ver ou rever o inovador Distrito 9.
O Conselheiro do Crime (The Councelor) Ridley Scott
Muito barulho por nada. Gastou-se uma grana com estrelas como Javier Bardem e Brad Pitt, mas esqueceram de contratar um bom roteirista. O filme é uma geleia pretensiosa difícil de assistir. É daqueles filmes que provocam uma consulta ao relógio para ver quanto falta para acabar.
O filme já começa com título ruim. A história é de um advogado, tratado como The Councelor. O título brasileiro “O Conselheiro do Crime” dá ideia de que há um aconselhador dos criminosos, um consiglieri da máfia. Totalmente falso. O advogado passa o filme todo sendo aconselhado pelos marginais. Devia ter seguido o conselho.
Entre as estrelas, há a esperta maquiavélica Malkina, interpretada por Cameron Diaz. A atriz está ganhando idade, mas ainda impressiona pela envergadura. Aliás, sua envergadura de pernas tem papel importante na cena de sexo numa (ou com uma) Ferrari. É a melhor cena do filme. Ingressou na lista das cenas antológicas de sexo do cinema. Malkina parece ser o diabo em pessoa. O roteiro frágil apresenta Malkina como uma orquestradora do caos, controlando cartéis das drogas como se fossem crianças inocentes. A partir dessa proposta inverossímil, o filme acompanha a derrocada dos investidores nas drogas.
Não vale falar muito dessa bobagem.
Amor Pleno [Terrence Malick, 2012]
Ainda bem que existe o IMDB. Se não fosse o famoso site de cinema, eu não teria entendido o filme. O site explica direitinho o roteiro. É preciso. O hermético (bota hermeticamente nisso) Malick não tem muita preocupação em facilitar as coisas para seus espectadores. Mistura narrações entrecortadas, planos soltos revoando na tela, e quem quiser que diga que aquilo é bom. Teve um crítico de O Globo que deu avaliação máxima. Deve ter fumado um antes de ver o filme. Não vale isso. Eu até gostei da fotografia. As tomadas com diferentes ângulos, variando a proximidade do objeto filmado, têm alguma beleza. Também concordo com o gosto para mulheres do diretor. Olga Kurilenko e Rachel McAdams são simplesmente espetaculares. Ben Affleck também é espécime masculino de reconhecida beleza. Mas daí dizer que sua interpretação tem algum valor é uma forçação violenta. O cara sustenta uma cara de papel em branco durante as duas horas do filme. Não entendi o mérito.
O estilo de Malick poderia dar em algo de bom se ele fosse um gênio. Não é. Aí, rola um tédio interminável que exaspera a platéia. Uns dormem. Outros partem pro chat no celular. Um outro começa a rir nervoso e trocar piadas com o vizinho. O intelectual empedernido sugere que o conversador vá assistir Wolverine, que rola na sala do lado. Muitos se perguntam se não teria sido melhor assim.
O Som ao Redor
Bom filme. Vale pagar o ingresso. Algo de novo para se ver. O diretor pernambucano Kleber Mendonça traça um retrato instigante de nossa sociedade através da visão acurada de um condomínio (ou quarteirão) de Recife. É como um quadro bem pintado. As cenas se sucedem como pinceladas de um quadro geral que assistimos a construção. Nem precisava amarrar um final. Se o filme fosse cortado de repente, já era vitorioso.
Os artistas se saem bem. O garoto descendente da oligarquia, pouco atento às diferenças de classe que o cercam, chega a parecer boa pessoa. É apenas um anestesiado pela indolência da classe dominadora. Os serviçais e humildes circulam no entorno dos ricos tirando o proveito que puderem. São cerca de dez personagens apresentados com detalhes suficientes para torná-los relevantes na paisagem da obra. A tensão da vida nas grandes cidades é a presença constante. Sempre há um som ao fundo. O som ao redor? Continue lendo “O Som ao Redor”
Cosmopolis [David Cronenberg]
É a versão deprimida de Nove Semanas e Meia de Amor. Esse filme de 1986, com os queridinhos da época Mickey Rourke e Kim Basinger (acreditem, eram jovens e bonitos) glamourizava o charme do dinheiro obtido no mercado financeiro. Nove Semanas mostrava o status dos muito ricos, direcionando sua mais valia para um erotismo estético, que tornou o filme exemplo de “pornô leve” e povoou as fantasias sexuais e financeiras da meninada.
Já Cosmopolis, pós-quebradeiras de Wall Street e depois dos chineses chegarem tomando conta do mundo, tem uma abordagem deprê, claustrofóbica, sem charme. É como um réquiem para os bilhões de dólares americanos e o poder que eles representam, que se esvaem pelos ralos da competição com os amarelos de olhinhos fechados. A imagem do povo americano protestando em Wall Street e os ricos de procurando por um corte de cabelo perfeito é boa síntese das diferenças dessa grande democracia. Isso tudo aí, conduzido pelo mestre do mal estar David Cronenberg, dá bom mau resultado. Não esqueçam que o diretor tem em seu currículo competentes e desagradáveis filmes como o insuperável Gêmeos – Mórbida Semelhança. Continue lendo “Cosmopolis [David Cronenberg]”
A Tentação [The Ledge] Matthew Chapman

Eu achei o filme um pouco explicado demais. Escrito e dirigido por Matthew Chapman, tem o mérito de discutir fé e ateísmo, do qual se costuma fugir para não magoar os religiosos. O filme começa pela situação limite de um sujeito que é levado a se suicidar ou deixar que outro morra. A partir da conversa com o policial, ficamos sabendo da história que levou àquele desenlace.
O diretor descendente de Darwin concentra o fogo no extremismo da fé. Nada como uma religião radical para canalizar o ódio das pessoas. Continue lendo “A Tentação [The Ledge] Matthew Chapman”
Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras [Sherlock Holmes: A Game of Shadows] 2011, Guy Ritchie
Fraquinho. O personagem está bombado. Ao incrível intelecto dedutivo do personagem criado por Conan Doyle, acrescentaram-se grande capacidade física e um quê de previsão de futuro, que transformaram o moderno Sherlock Holmes em um típico super-herói. Os menos conhecedores do personagem original, vão achar que Sherlock Holmes é uma cópia do médico House, dos seriados de TV (!). Mas quem vai ver a franquia Sherlock Holmes espera por histórias desse tipo. O ritmo frenético, as piadas geradas pela relação entre Holmes e seu amigo Watson, vão segurando a história. O arqui-inimigo (super-herói tem que ter um arqui-inimigo) Professor Moriarty funciona bem. O irmão de Holmes, incluído no grupo, não acrescenta muito ao quadro geral da história. A fotografia escura faz parte do da programação visual da época. A afetação dos atores Robert Downey Jr. e Jude Law é adequada para as brincadeiras do 007 da antiga Londres, se bem que os aventureiros viajam bastante durante a história. O resultado final é um filme sem compromisso para passar o tempo no final de tarde ou para assistir no futuro na TV paga. Elementar!
Árvore da Vida [The Tree of Life] 2011, Terrence Malick
Fui com um amigo ver Noite Americana no finado cinema Rian. Eram as famosas estréias de sábado, às 22h, nos idos dos anos 70. Era um agito. Este filme de Truffault é maravilhoso! Como uma de suas dádivas, o filme sacramentou Jacqueline Bisset como das coisas mais lindas imortalizadas no celulóide. Bem, meu colega de turma da esquina, entendeu que era um filme de aventura, com porradaria correndo solta e outros adereços de um filme de ação. Eu ri muito quando saímos do cinema e ele declarou sua perplexidade frente ao filme “lentinho” e bobo que acabara de assistir.
Corta, avancemos para 2011. A Revista de O Globo desse domingo registrou mais um engraçado “Entreouvido por aí”. Era o papo entre dois rapazes saindo do cinema, depois de assistirem Árvore da Vida. Um deles dizia: “Por que você não me disse que o filme era assim? Pelo trailer, achei que era normal.” Sou obrigado a confessar que tive sensação parecida ao sair do filme de Terrence Malick. Eu queria um filme mais normal. Continue lendo “Árvore da Vida [The Tree of Life] 2011, Terrence Malick”
O Vencedor [The Fighter] 2010, David O. Russell

Pra mim, está na área o ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante. Christian Bale, que fez um parrudo Cavaleiro das Trevas em Batman Begins (2005), faz o ex-lutador de boxe Dicky Eklund, viciado em crack, exaurido, com os ossos da face mostrando como foi rigorosa a preparação física para fazer o filme. Sua interpretação é impressionante. Seu irmão mais novo, também um boxer, Micky Ward, é interpretado pelo fortinho Mark Wahlberg, de Quatro Irmãos (2005), que também entra na produção do filme. Baseado em história real, o filme é da classe tão adorada pela Academia de Hollywood: os perdedores que vencem pela superação. E também trata do boxe, talvez o esporte (boxe é esporte?) mais exibido nas telas de Hollywood. O boxe tem bom rendimento para ganhar a estatueta dourada. Touro Indomável (1980) deu Oscar de melhor ator para Robert De Niro, interpretando o boxer Jake La Motta. Clint Eastwood levou Oscar de melhor filme com o fraco (eu acho, pô!) Menina de Ouro e ainda deu o Oscar de melhor atriz para Hilary Swank. Pelo jeito, apesar do tema boxe ser repetitivo em Hollywood, a chance de O Vencedor (por que não traduziram para O Lutador?) é grande. A história funciona bem. Os personagens são bons para amarmos ou odiarmos. É o caso da namorada e da mãe do irmão do lutador. A namorada Charlene é interpretada pela bonita Amy Adams, que eu conhecia mais pela participação em comédias, como Encantada e Uma Noite no Museu II. Ela se saiu bem no papel sério. Melissa Leo é a mãe e manager dos lutadores com suas ética peculiar e amor pelos filhos. Melissa também concorre ao Oscar com boas chances ao prêmio de melhor atriz coadjuvante.
O filme bate bem. A luta final é emocionante. Meu coração acelerou. Cabe a pergunta: Será esse o Oscar do Vencedor?