Por que tem tanta banca de jornal na cidade?

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Sou contra as bancas de jornal! Não sou contra os jornaleiros, simpáticos senhores que nos vendem jornais e revistas, que são, em geral, boas criaturas para um dedo de prosa. Sou contra os donos da enorme rede de bancas de jornal da cidade. Este negócio está crescendo, e muito, e cresce às custas do espaço de nossas calçadas. Continue lendo “Por que tem tanta banca de jornal na cidade?”

Garota de Ouro [Million Dollar Baby] de Clint Eastwood

garota de ouro, foto imdb.com

clint eastwood embarca na pieguice

O cinema americano desandou. Fiquei estupefato com o filme de Clint Eastwood. O eterno mocinho do faroeste espaguete sabe muito de cinema. Ele não veio para inventar, mas suas obras, com particular destaque para Imperdoáveis (Unforgiven), mostram que o homem entende do ofício e está bem posicionado como produtor e diretor de filmes – como dizer? – arrumados. Pois é, a idade bateu. O velho Clint dá sinais de caducar. Seu filme Garota de Ouro (Million Dollar Baby) é quase ruim. É um show de pieguice e lugares comuns sentimentais em filme pré-fabricado para atender aos critérios da disputa pelo Oscar. Clint abusa das fórmulas para fazer filme para o povão americano, apelando de todo jeito. Dessa vez ele radicalizou. Se filme mostrando sagas de vencedores faz sucesso, se filmes tratando de deficientes físicos toca o coração e a carteira do público, por que não juntar as duas coisas? O diretor faz isso com uma mão tão pesada que chega a dar constrangimento em quem tiver um mínimo de senso crítico e não se entregar às armadilhas vulgares que ele utiliza para extrair lágrimas da platéia. Os sintomas do golpe engendrado pelo ambicioso diretor são óbvios. Ele cria um trio de alta receptividade para as platéias. Um é o próprio Clint Eastwood, atuando bem como o treinador Frankie Dunn, cheio de culpas com a filha – ou seria um diretor de cinema cheio de culpa com o produto do seu trabalho? – que encontra a filha que todo pai queria ter. Tem também o sempre correto Morgan Freeman, como o coadjuvante que amarra as situações e faz a história andar. E tem a menina de ouro, Hilary Swank, fazendo a lutadora de boxe Maggie Fitzgerald, que é o melhor do filme. Swank tem uma beleza estranha, às vezes rude, às vezes terna, e defende seu pesado personagem com garra extraordinária, tornando-o minimamente assistível. A atriz é realmente uma força da natureza. Lembram de Meninos Não Choram (Boys Don’t Cry), onde Swank é um menino? Seu rosto anguloso lhe deu agora os recursos necessários para encarar o papel de boxeadora. A atriz não baixa a guarda em nenhum momento da interpretação. Já levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama. Swank põe na sombra até Morgan Freeman, que não é bobo e soube se colocar no canto do ringue, garantindo o brilho como coadjuvante.

E a história? Se você está com problemas e quer se entregar à terapia da emoção e choro livre, vá fundo. Conforme o filme se encaminha pro final, Clint Eastwood, arrebenta a boca do balão e mergulha na tragédia. Ele simplifica o mundo e produz falhas graves de aderência à realidade. Passa por cima da lógica, talvez por falta de tempo, produz um final de filme que oscila entre o seríssimo e o ridiculamente sentimental. Mas o que está valendo é jogar a emoção da platéia na lona e obter os votos da Academia do Hollywood. Este é o jogo sujo do diretor. Ele pode ver o público americano como um bando de espectadores embotados que precisam de doses cavalares de adrenalina para sair do coma de um povo que elegeu Bush por uma segunda vez. Mas, para alguém semidesperto, a presepada pomposa do filme é torturante. Tirando o trio ternura central, o resto dos personagens são um desfile de caricaturas. A cena do hospital, com a família gulosa da lutadora, é constrangimento para se ruborizar e virar o rosto. A musiquinha de fundo, feita para dar o tom da lágrima que corre, vira o estômago. Resumindo, é pura apelação.

Para não dizer que não há mais nada a se falar sobre o filme, ainda há comentário negativo a ser feito. O treinador passa a sua pupila a preocupação com “se proteger todo o tempo”. Isto é parte central do enredo. Esta ênfase em se proteger parece coisa liminar ou subliminar do medo americano de hoje. Eles estão certos que se descuidarem e olharem pro lado, qualquer subdesenvolvido pode violar uma regra e fazer uma bomba nuclear. Sei não. Essa mensagem do filme pode ser produto da mediocridade de visão do mundo que a sociedade americana tem hoje, pode ser minha paranóia intelectualizada ou pode ser o Alzheimer que chega para Eastwood.

[Ernesto Friedman]
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Quem escondeu os juros?

Há uma coluna da Veja que é meio chata. Quem escreve é Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. Ele fala de assuntos enfadonhos da Economia, que não devem atrair muitos leitores da frugal revista semanal brasileira. Entretanto, em artigo recente, intitulado “Onde estão os juros?”, Gustavo tratou de um tema tabu, que em geral é menosprezado ou premeditadamente retirado das pautas. Trata-se dos crediários compulsórios que os brasileiros são obrigados a usar em suas compras. Continue lendo “Quem escondeu os juros?”

Springer dá show de Atendimento

a fabricante de ar condicionados respeita o cliente

Nesse Brasil, a gente só vê motivo para reclamar. Na média, as coisas não funcionam. No comércio, a sensação é que lidamos com espertos que parecem querer aproveitar a menor distração para extrair mais dinheiro da gente, nos oferecendo serviços e produtos piores. Quando acontece diferente, ficamos surpresos. Continue lendo “Springer dá show de Atendimento”

Por que respeitar as Igrejas?

O filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, é o assunto do momento. O filme é extremamente violento e gasta toneladas de ketchup para mostrar, com muito sangue, o tormento de Jesus. Também cria polêmica e foi tachado de anti-semita ao mostrar os judeus como responsáveis ou, com participação ativa, no papel de mandar Jesus para a cruz. De um modo ou de outro, Gibson consegue ser falado. A besteira do sangue tira minha motivação para perder tempo vendo sofrimento por duas horas. A exposição de judeus – maculando sua imagem de eternos sofredores e perseguidos, por sinal, muito bem administrada pela indústria cinematográfica, cujo controle está com o capital judeu – gerou logo reação. É normal. Mas minha intenção não é falar da obra do cristão ortodoxo Mel Gibson. Só de falar em ortodoxo fico todo arrepiado e o estômago embrulha.

Pra ser sincero, estou pouco me lixando para os aspectos religiosos do filme. É apenas mais um negócio, um investimento, e quanto mais polêmica a obra criar, mais retorno financeiro vai produzir. A rigor, o assunto todo não me interessa. Indo mais fundo ao ponto: Religião não me interessa e tenho verdadeira repulsa a este ramo de negócio onde atuam um sem número de empresas vulgarmente chamadas “Igrejas” que, descaradamente, vendem aos incautos a intermediação com o divino. Um cretino poderia dizer que as Igrejas têm atividade social importante buscando manter quietos os pobres de espírito e de bolso. Mas pra que serve dar atenção e dinheiro a estas empresas, entre as quais as modernas caça-níqueis chamadas Igrejas Evangélicas? Elas estão falhando na atividade mais importante que lhes cabe: manter os miseráveis quietos e permitir que a classes média e alta usufruam de sua confortável qualidade de vida sem serem importunadas pelos “menos afortunados”, que quer dizer “os de menor fortuna”, ou seja, “os pobres”. A carência humana, que não consegue entender sua existência sem apelar para inventar deuses, é explorada por estes estelionatários das Igrejas que vendem sua intimidade com Deus com a mesma competência que seus colegas menos espertos vendem para os otários terrenos no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas. Ainda chegará o dia em que o Procon vai cair em cima dessas empresas.

O golpe de “vender Deus” vem de longa data e as Igrejas estão bem estruturadas. No quesito sobrevivência empresarial, por exemplo, elas mostram rara competência. Percebendo que a melhoria das condições da sociedade diminui seu mercado, se esforçam para ampliar sua base de consumidores, agindo com eficiência para instalar o caos, e aumentar o número de ignorantes. Vejam o que acontece com o controle de natalidade no Brasil. O país precisa reduzir seu crescimento demográfico de modo a compatibilizar sua população com o crescimento da riqueza que conseguimos gerar. Menos filhos proporcionariam mais oportunidades de trabalho e educação para eles. Mas, o que acontece? Os rebanhos de carolas e crentes em geral, fertilizados pela oposição que toda Igreja faz ao planejamento familiar, geram um filho depois do outro. As meninas, parindo a partir dos 13 anos, são proibidas pelas Igrejas de fazer abortos. A camisinha é criticada pela Igreja Católica. Resultado: o Brasil vê crescer um exército de sem comida, sem casa, sem trabalho, prontos para serem manipulados pelas Igrejas. Como o mundo está cheio de espertos, os políticos, diretamente representando as organizações religiosas ou apenas pegando o barco da manipulação dos miseráveis, se juntam ao esquema e passam a defender os interesses das Igrejas, impedindo leis mais razoáveis e praticando o paternalismo político, com destaque para restaurantes de R$1,00.

Vou sair de minha quieta indignação e propor ao Tirésias da Silva, se ele sair candidato na próxima eleição, que defenda a colocação das Igrejas na ilegalidade. Vamos aproveitar o fechamento dos bingos e fechar este monte de templos legalizados que dão prejuízo social ao país. Meu amigo, quer rezar? Fique à vontade, mas vai rezar na informalidade de sua casa. Fica com Deus!

Vale-tudo por dinheiro (e poder)

mas qual deles pode nos prejudicar?

Sempre valeu, a diferença é que, nos dias hoje, nossa sociedade está explicitando aquilo que teimávamos em acreditar ser um fenômeno restrito às platéias do Silvio Santos. Lá, os espectadores do programa – gente humilde – lutam para disputar as notas de R$50 que o apresentador joga para o alto. Continue lendo “Vale-tudo por dinheiro (e poder)”