Momento Sórdido do Brasil 

São tempos tristes. O brasileiro minimamente informado percebe que sujeira transbordou. Os políticos (mais do que nunca, podemos generalizar) estão se esgueirando pelas sarjetas buscando se entocar sob a sombra do foro privilegiado. O presidente Temer lidera campanha de casuísmos para dar sobrevida aos zumbis em que se transformaram antigos próceres da república. Como o cinema ensina seguidamente, o final comum de todo zumbi é ter sua cabeça explodida ou tirada do pescoço. Parece que estamos no “the end” de nosso filmeco tupiniquim. Sabemos o final. Só não sabemos o que acontecerá quando acenderem as luzes do cinema. 

Palavra da semana: CONTRAPARTIDA

O noticiário tá sempre acrescentando novas palavras ao vocabulário do dia a dia. Às vezes, algumas palavras vêm carregando novos significados. A palavra da semana foi “contrapartida”. A delação da Odebrecht mostrou que o dinheiro pedido para as campanhas dos políticos brasileiros traziam referências explícitas ou disfarçadas a futuros “agrados” que seriam feitos à empreiteira em assuntos de seu interesse. 

Agora, só nos resta apreciar os memes que serão criados explorando as diversas versões de contrapartidas. Pelo menos assim a gente ri. 

Brasil tá dando show na Olimpíada 2016: de incompetência!

Vamos lá. Resgate de chefe no tráfico no maior hospital público do Rio, no Centro da cidade. A passarela de São Conrado caiu ridiculamente jogada pro alto por uma onda de ressaca. Uma jovem sofreu abuso por cerca de trinta homens que aproveitaram pra documentar o evento. Do lado dos que deveriam garantir a segurança, a PM é uma fábrica de viúvas. Morre policial toda semana. No futebol – sempre o futebol dominando nossa simbologia – perdemos  logo no início da Copa América. Nada de novidade, desde o 7×1 que levamos da Alemanha, nossas mazelas decidiram sair de debaixo do tapete. A operação Lava-Jato vem apontando os donos de nossas capitanias hereditárias. Ou vocês acham que é coincidência filhos de Sarneys e Lobões já estarem assumindo cargos importantes no país. Nosso legislativo vai acabar em boa parte preso. O que vem depois?

Já gastei bastante tempo me lamuriando. Este país está um brasil. Curioso e amedrontador é prever como ficaremos depois da Olimpíada. O sonho do Brasil moderno foi pro cacete. O que fica?

NBA e o futebol brasileiro

Um par de ingressos para a final da NBA foi vendido por 330 mil reais. É muito. Mas vale. Se você for um milionário que já tem tudo. Ver este jogo pode acrescentar ao seu patrimônio. É um grupo de jogadores de altíssima qualidade reunidos. O show é produzido com qualidade excepcional. E por que falar disso? Tá bem que o futebol é meio monótono de assistir. Mas dá pena ver o circo mambembe em que se transformou o futebol brasileiro. Qualidade técnica ruim. Armações da CBF que enriqueceram os dirigentes empobrecendo o esporte dão o tom da novela futebolesca. Nos resta assistir o futebol espanhol (Messi e companhia) ou o alemão (7×1, lembram). Só nossa mediocridade de torcedor nos leva a aturar o futebol daqui. É muito pouco prazer sacanear, na segunda-feira, os torcedores dos times derrotados da rodada. Somos todos perdedores. 

Sobre triplexes e sítios 

Acho que abusei no plural de triplex, mas o substantivo ganhou notoriedade ultimamente, alguém ia precisar pluralizá-lo. Fi-lo. Os substantivos do título do post são tipos de imóveis, bens patrimoniais, que as evidências estão apontando ser o ex-presidente Lula o proprietário. O sítio entrou de reforço nas denúncias. Está em nome de sócio do filho de Lula. O metalúrgico foi assíduo frequentador da propriedade. A generosa empreiteira OAS fez obras no sítio. Pagou por cozinha de luxo da Kitchen para a casa de campo do líder do PT. A vinculação de Lula ao sítio cheira mal, mas o fedor mesmo está no triplex de Santos. 

O apartamento foi comprado por Lula numa cooperativa de sindicato que faliu e, por coincidência, só construiu o prédio do presidente metalúrgico. A OAS fez obra monumental (coisa de 800 mil reais) no imóvel que Lula diz que não era dele. Lula visitou o apartamento e sua esposa foi lá várias vezes acompanhando a obra. A OAS comprou a mesma cozinha que foi instalada naquele sítio do começo da história. O casal Lula pulou fora do negócio registrado com a cooperativa quando a imprensa começou a xeretar as condições da transação. A essa altura, a OASja era dona do empreendimento. A construtora aceitou romper o negócio é devolver o dinheiro investido pela esposa do presidente cinco anos depois de vencido o prazo padrão a que os outros pretendentes foram submetidos. 

Tá tudo estranho. Parece que o cerco está apertando. Ainda não merece prisão, mas o cheiro começa a incomodar. Aguardemos. Vale a frase de Elio Gaspari, em O Globo, de 03.02.2016:

Certezas, cada um pode ter as suas; sentenças, só quem produz é a justiça.      

mídia social é um fórum para a “estupidez”, diz Herzog

Werner Herzog não gosta de mídias sociais. Eu também! Diz ele: “My social media is my kitchen table. My wife and I cook and we have four guests maximum because the table doesn’t hold more than six.”

Esse post é tão pequeno que é quase um tweet. 

e Woody Allen gosta (e recomenda) Machado de Assis

Numa lista de livros que Allen considera especiais para ele, em que ele inclui O Apanhador no Campo de Centeio, de Salinger, o cineasta surpreende indicando um livro de Machado de Assis. Vá ser sofisticado assim em Manhattan. Segue o trecho da entrevista onde ele faz o comentário:

Let’s turn to a comic novel written in 1880 by Brazil’s Machado de Assis. Tell us about it and how you came to love this work.

Well, I just got it in the mail one day. Some stranger in Brazil sent it and wrote, “You’ll like this.” Because it’s a thin book, I read it. If it had been a thick book, I would have discarded it.

I was shocked by how charming and amusing it was. I couldn’t believe he lived as long ago as he did. You would’ve thought he wrote it yesterday. It’s so modern and so amusing. It’s a very, very original piece of work.

Escrita Aleatória

É maneira de passar o tempo. O equivalente escrito de ler mecanicamente sem prestar atenção no sentido do texto. As palavras vão surgindo, se alinhando nas frases como jorro irresponsável. Até pode acontecer de algo valer a pena. Algum senso ou falta dele que mereça uma reflexão. A procura das palavras certas é sofrida. Elas aparecem, ou esbarram na busca por um fio de prosa, como pessoas apressadas na calçada da avenida. Levo cotoveladas de significados promissores que se esvaem assim que digito suas letras. Se pelo menos essa prática fosse eficiente em trazer o sono. Longe disso. Quanto mais disparatada vai ficando a monótona ladainha (há ladainha animada?) que vou criando, mais desperto fica o incauto pretendente a produzir um escrito. Vontade mesmo é de fechar o editor de texto e render-se ao prazer solitário de um joguinho do computador. Ficar ali mesmerizado (gosto dessa palavra, não consigo resistir a inseri-la aqui), olhos acompanhando os dedos nas perfeitas imagens inventadas do passatempo digital. A esperança. Há um traço de otimismo que acredita na produção da qualidade. Algo como uma alquimia literária que gere o texto precioso pela infinita repetição do ato de enfileirar letras. Acredita-se em tanta coisa. Por que não?