Os atores da política brasileira dão show de didatismo. Se exemplo ruim for útil, eles são ótimos professores. Como de comum acordo, exibem comportamentos desprovidos de ética, contrários à legislação, movidos pelo oportunismo, tudo com desinibição extraordinária. Fazem às claras tudo ao contrário do que pregam seus discursos. Cabe a nós, mesmo com nossa volátil memória, tirarmos proveito dessas aulas, verdadeiras vitrines da alma de nosso país de bosta. Continue lendo “Não pague impostos! É ilegal, mas, e daí?”
Autor: Sebastião Agridoce
Por que respeitar as Igrejas?
O filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, é o assunto do momento. O filme é extremamente violento e gasta toneladas de ketchup para mostrar, com muito sangue, o tormento de Jesus. Também cria polêmica e foi tachado de anti-semita ao mostrar os judeus como responsáveis ou, com participação ativa, no papel de mandar Jesus para a cruz. De um modo ou de outro, Gibson consegue ser falado. A besteira do sangue tira minha motivação para perder tempo vendo sofrimento por duas horas. A exposição de judeus – maculando sua imagem de eternos sofredores e perseguidos, por sinal, muito bem administrada pela indústria cinematográfica, cujo controle está com o capital judeu – gerou logo reação. É normal. Mas minha intenção não é falar da obra do cristão ortodoxo Mel Gibson. Só de falar em ortodoxo fico todo arrepiado e o estômago embrulha.
Pra ser sincero, estou pouco me lixando para os aspectos religiosos do filme. É apenas mais um negócio, um investimento, e quanto mais polêmica a obra criar, mais retorno financeiro vai produzir. A rigor, o assunto todo não me interessa. Indo mais fundo ao ponto: Religião não me interessa e tenho verdadeira repulsa a este ramo de negócio onde atuam um sem número de empresas vulgarmente chamadas “Igrejas” que, descaradamente, vendem aos incautos a intermediação com o divino. Um cretino poderia dizer que as Igrejas têm atividade social importante buscando manter quietos os pobres de espírito e de bolso. Mas pra que serve dar atenção e dinheiro a estas empresas, entre as quais as modernas caça-níqueis chamadas Igrejas Evangélicas? Elas estão falhando na atividade mais importante que lhes cabe: manter os miseráveis quietos e permitir que a classes média e alta usufruam de sua confortável qualidade de vida sem serem importunadas pelos “menos afortunados”, que quer dizer “os de menor fortuna”, ou seja, “os pobres”. A carência humana, que não consegue entender sua existência sem apelar para inventar deuses, é explorada por estes estelionatários das Igrejas que vendem sua intimidade com Deus com a mesma competência que seus colegas menos espertos vendem para os otários terrenos no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas. Ainda chegará o dia em que o Procon vai cair em cima dessas empresas.
O golpe de “vender Deus” vem de longa data e as Igrejas estão bem estruturadas. No quesito sobrevivência empresarial, por exemplo, elas mostram rara competência. Percebendo que a melhoria das condições da sociedade diminui seu mercado, se esforçam para ampliar sua base de consumidores, agindo com eficiência para instalar o caos, e aumentar o número de ignorantes. Vejam o que acontece com o controle de natalidade no Brasil. O país precisa reduzir seu crescimento demográfico de modo a compatibilizar sua população com o crescimento da riqueza que conseguimos gerar. Menos filhos proporcionariam mais oportunidades de trabalho e educação para eles. Mas, o que acontece? Os rebanhos de carolas e crentes em geral, fertilizados pela oposição que toda Igreja faz ao planejamento familiar, geram um filho depois do outro. As meninas, parindo a partir dos 13 anos, são proibidas pelas Igrejas de fazer abortos. A camisinha é criticada pela Igreja Católica. Resultado: o Brasil vê crescer um exército de sem comida, sem casa, sem trabalho, prontos para serem manipulados pelas Igrejas. Como o mundo está cheio de espertos, os políticos, diretamente representando as organizações religiosas ou apenas pegando o barco da manipulação dos miseráveis, se juntam ao esquema e passam a defender os interesses das Igrejas, impedindo leis mais razoáveis e praticando o paternalismo político, com destaque para restaurantes de R$1,00.
Vou sair de minha quieta indignação e propor ao Tirésias da Silva, se ele sair candidato na próxima eleição, que defenda a colocação das Igrejas na ilegalidade. Vamos aproveitar o fechamento dos bingos e fechar este monte de templos legalizados que dão prejuízo social ao país. Meu amigo, quer rezar? Fique à vontade, mas vai rezar na informalidade de sua casa. Fica com Deus!
Vale-tudo por dinheiro (e poder)
mas qual deles pode nos prejudicar?

Sempre valeu, a diferença é que, nos dias hoje, nossa sociedade está explicitando aquilo que teimávamos em acreditar ser um fenômeno restrito às platéias do Silvio Santos. Lá, os espectadores do programa – gente humilde – lutam para disputar as notas de R$50 que o apresentador joga para o alto. Continue lendo “Vale-tudo por dinheiro (e poder)”
Em Busca do Tempo Perdido [Marcel Proust, 2001, Companhia das Letras]

Já entrado nos anos (no bom sentido), decidi por me aventurar nos clássicos. Boa literatura não há de fazer mal a um sujeito prenhe de sentimento como eu. Continue lendo “Em Busca do Tempo Perdido [Marcel Proust, 2001, Companhia das Letras]”
Perdas
Em dado momento da história, Lewis, instigado a rememorar uma grande perda, relata sua experiência, aos 9 anos, quando do falecimento de sua mãe. O escritor acrescenta o detalhe banal de que nessa época ele tinha dor de dente e queria o colo da mãe, mas ela não estava mais lá.
Recentemente, esbarrei, na tevê por cabo, com o filme Terra de Sombras (Shadowlands, 1993), obra de especial sensibilidade, com diálogos memoráveis e elenco de raro equilíbrio, liderado por Anthony Hopkins interpretando o escritor C.S. Lewis em seu belo romance com a também escritora Joy Davidman. Hopkins estava afiado. Recém saído de outra grande interpretação em Vestígios do Tempo, filme do mesmo ano, o ator inglês exibe maestria na interpretação de sutis emoções. Um filme grandioso, bem no estilo do diretor Richard Attenborough, abordando temas profundos tais como: felicidade, relacionamento, amor, deus, morte e a perda de um ente querido. É filme para ver e rever.
Em dado momento da história, Lewis, instigado a rememorar uma grande perda, relata sua experiência, aos 9 anos, quando do falecimento de sua mãe. O escritor acrescenta o detalhe banal de que nessa época ele tinha dor de dente e queria o colo da mãe, mas ela não estava mais lá. Continue lendo “Perdas”
O Prefeito Sujo
Deve ser um sujeito empreendedor. Bom de papo. Talvez, até, bom pai de família. Será que a esposa sabe de onde vem a grana? Deve saber, mas não se preocupa. Contanto que a boa vida aconteça, os meios se justificam. O dinheiro deve entrar pelo caixa dois. Pode ser por unidade instalada. Cada outdoor que é erguido lhe garante uma renda mensal. Vejam que não é pouco. Juntem-se todos os painéis de propaganda da cidade do Rio de Janeiro e imaginem a grana preta de que estamos falando. Deve dar para manter um carro importado ou a casa na serra. Assim eu imagino o intermediador que trata de arrumar mais e mais lugares para colocar outdoors no Rio de Janeiro. O sacana se dá bem. A nós, os moradores do Rio, resta conviver com a zorra da sujeira visual espalhada por muros, laterais de prédios, qualquer lugar onde caiba um outdoor. Não sei se causa incômodo em você. Eu, de minha parte, fico puto com essa bagunça. A quem culpar por essa esculhambação? Eu sugiro o prefeito.
Em tempos de campanhas eleitorais passadas, César Maia disse que iria limpar o Rio de Janeiro da porcariada de propagandas que enfeiam a cidade. Isso, claro, foi antes de se eleger. Depois de assumir, esqueceu o assunto. A cidade está encoberta pela propaganda feia e invasiva. É poste, sinal luminoso e os enormes outdoors. O que tem de casa escondida por muros de outdoors! Tem até pontos turístico cobertos pela sujeirada de propaganda. “O ambiente visualmente poluído acaba por causar nas pessoas incômodo e faz com que percamos a capacidade de perceber coisas boas. O espaço público adquiriu outro sentido e muitas vezes falta o bom gosto no que vemos”, diz a arquiteta Heliana Comin Vargas, professora livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (www.drvisao.com.br). Concordo.
Por que o prefeito não se preocupa com o problema? Eu acho que o fator grana é onde a coisa pega. O esperto prefeito tem seus interesses nas eleições. Daí que é bem oportuno fazer vista grossa para a porcaria que estão fazendo nas ruas da cidade. O negócio de lotear o espaço visual da cidade deve render bom dinheiro. A mutreta é antiga. Já escrevemos aqui na época do Conde (aquele prefeito ridículo que dava um bom Rei Momo), mas as sacanagens no Brasil não diminuem, pelo contrário, tendem a crescer e ficar mais e mais profissionais até atingir o limite de tolerância da população. Os outdoors são assim. Por mais que se mostre a sujeira espalhada no cidade, nada será feito. O melhor que pode acontecer é o prefeito esperar terminar a eleição, para, com estardalhaço, tirar alguns painéis que ele mesmo liberou para serem colocados.
César Maia é um perito na arte de ludibriar a atenção da população. Seu estilo está bem definido. Depois que ganha uma eleição, desaparece. Fica procurando alguma oportunidade política na outra eleição que acontece no meio de seu mandato. Se não pinta nenhuma boca, ele prepara um plano que faça bastante tumulto na cidade, um Rio Cidade por exemplo. Esburaca tudo, gasta uma grana com os empreiteiros e faz cara de bobo no sambódromo para enganar o verdadeiro bobo: o eleitor. Aí, ocupa todo espaço que tiver na mídia e tenta se eleger de novo. Um artista. De bobo não tem nada.
Desculpem-me por lhes lembrar mais este atraso social que nos cerca: a proliferação dos outdoors. Para alguns pode parecer sem importância. Mas, nas pequenas coisas aparece o conceito de cidadania. O curioso é que pouco temos a fazer. Alguém sabe a quem recorrer?
por um zoológico para os cães
eles ficariam lindos lá dentro e nós livres para circular aqui fora Continue lendo “por um zoológico para os cães”
Sexo in Rio

Esta é uma transcrição
livre do Querido Diário do americano Johnny B. Good, turista
sexual que veio ao Rio no verão de 2005. Vale a pena apreciar a
sensibilidade do relato do despertar de sua paixão pela Cidade
Maravilhosa.
Depois da semana de trabalho, cheia de intermináveis reuniões com os
brasileiros, desci do hotel para apreciar o mar da praia de Copacabana e,
quem sabe, contratar uma prostituta para relaxar. Era sábado, na semana
seguinte ao Carnaval. Muitos turistas ainda continuavam na cidade,
ajudando a manter a efervescente indústria de serviços sexuais do Rio.