O mais intrigante problema de probabilidade

Há 30 anos atrás, eu trabalhava com um grupo cujos participantes tinham muito boa formação em matemática e estatística. Certo dia apareceu um problema aparentemente fácil, mas que tinha uma casca de banana que gerava dúvida sobre sua solução.

Vejamos o tal problema. Nós o chamávamos de o “Problema do Silvio Santos”. Isso por que SS tinha um quadro em seu programa de domingo em que eram oferecida portas para os concorrentes escolherem. Acho que eram as Portas da Fortuna. Escolhendo a porta certa o participante do programa ganhava um prêmio. Usemos o jogo oferecido por Silvio para apresentar o curioso problema.

Considere que as Portas da Fortuna são três. Atrás de uma delas há um prêmio de valor, por exemplo, 10 mil reais. As outras portas, se escolhidas, dão direito a prêmios de consolação ou, simplesmente, o concorrente não ganha nada. Silvio pede ao concorrente para escolher uma das portas. Elas são todas iguais e só a sorte pode fazer com que seja escolhida a porta que leva ao prêmio. O participante escolhe uma porta. É aí que a coisa fica animada. As portas continuam fechadas. O apresentador sabe qual é a porta que esconde o prêmio. Ele abre uma porta das duas que não foram escolhidas pelo jogador. Como sabe onde está o prêmio, Silvio escolhe para abrir uma porta que não ganha o prêmio. Se o concorrente escolheu a porta certa na primeira escolha, Silvio tem duas portas vazias para abrir. Se o concorrente não escolheu a porta da sorte, o apresentador abre aquela das duas restantes que não conduz a ganhar os desejados 10 mil reais. Depois de abrir a porta vazia, Silvio oferece ao concorrente uma segunda jogada. Ele pode continuar com sua escolha inicial ou trocar para a outra porta que permanece fechada. Notem que o apresentador sempre seguirá o procedimento de abrir uma porta vazia e oferecer ao participante do programa a oportunidade de trocar sua primeira escolha, mesmo que a primeira escolha do concorrente tenha sido a da porta que ganha o prêmio.

Qual o problema então? Sabemos que a chance de acertar a porta na primeira escolha é de 1/3. Depois que o condutor do programa abre uma porta vazia, restam duas portas fechadas, aquela escolhida primeiro e a outra que o apresentador oferece para o candidato mudar sua escolha. Entre as duas portas restantes, a chance de acertar é aparentemente 50%. Pergunta: o concorrente aceitar trocar sua escolha original e indicar a porta que restou fechada aumenta suas chances de ganhar o prêmio?

A resposta é “Sim. Trocar para a outra porta aumenta bastante a chance de escolher a porta que esconde o prêmio.” Qual a probalidade de acertar a porta do prêmio se o concorrente trocar de portas? Deixo a vocês o cálculo da probalidade de acertar.

Vejam que interessante. Se Silvio Santos quisesse criar suspense e fizesse esse jogo com, digamos, dez portas no lugar de apenas três? Nesse jogo ampliado, o apresentador deve adotar a regra de sempre oferecer uma porta vazia para as jogadas em que o concorrente pode trocar sua escolha. Se o concorrente nao troca, ele abre a porta e mostra que ela está vazia. O concorrente esperto que não aceitar trocar sua escolha original o final do processo quando Silvio abre uma última porta vazia e só restam duas portas fechadas. Nessa jogada, o participante do programa deve aceitar trocar sua escolha inicial pela porta que restou fechada. Se o jogo for jogado assim pelo nosso ideal Silvio Santos e pelo imaginário competidor, as chances dele ganhar o prêmio será de 90%. Ou seja, assim seria fácil ganhar R$10 mil.

Este problema é apresentado no livro o Andar do Bêbado, de Leonardo Mlodinow, com mais elegância do que eu o fiz. Vi recentemente, num artigo na internet, comentarem sobre o problema. Também me empolguei em registrá-lo.

A Praga das Olimpíadas

Assistimos todo dia este Brasil desordenado e continuamos a nos perguntar como vai ser a realização das Olimpíadas por aqui. Um artigo do site The Daily Beast (thedaiybeast.com) traz más notícias para quem acredita que o Rio vai ganhar com a realização dos jogos em nossa cidade. Os dados compilados por estudiosos do assunto mostram que não se comprova o famoso argumento de que os turistas vão correr para a cidade que realiza uma edição dos jogos olímpicos modernos. Os orçamentos estouram. Populações pobres são deslocadas. O evento ocorre. Alguns poucos ganham muito dinheiro e a cidade sede fica com as dívidas para administrar. Montreal foi o maior fracasso. Seu orçamento atingiu oito vezes o previsto. Outras cidades não chegaram a tanto. Mas os custos altos são a rotina nesses megaprojetos. Notem que não falam de corrupção, obras superfaturadas ou preços majorados pelo golpe do atraso das obras. Claro que o Rio não é esse caso.

O interessante do artigo é a argumentação realista de que os custos de uma Olimpíada não se pagam. Depois do evento, linhas de trem e metrô ficam subtilizadas. Estádios caríssimos são abandonados. Um idealista sugeriu que uma ilha da Grécia fosse selecionada para abrigar os Jogos permanentemente. A idéia é excelente, entretanto a sugestão não incluiu a maneira dos espertos enriquecerem com os orçamentos. Resultado: a Ilha das Olimpíadas foi esquecida.

A sina das Olimpíadas é forte e tem acontecido com regularidade de quatro em quatro anos. As cidades sofrem com obras por anos que antecedem os Jogos. Áreas de população pobres são remanejados sob o discurso da revitalização. Os empreendedores ligados ao projeto olímpico enriquecem. Por alguns dias a cidade sede assiste o brilho da competição. Depois, ela é esquecida, cai na rotina, e ficam as dívidas para serem pagas pelos anos a frente.

É claro que no Rio de Janeiro isso não vai acontecer.